Apesar dos apagões e do atraso de mais de uma hora no primeiro dia
de desfile das escolas de samba de São Paulo, o público foi bastante
receptivo com a apresentação das agremiações no Sambódromo do Anhembi,
na zona norte da capital paulista. Mesmo após a chuva que atingiu a
cidade no início da noite, camarotes e arquibancadas, por volta das 2
horas, estavam praticamente lotados.
“Gosto de vir todo ano para ver
as escolas e virar a noite aqui na arquibancada. Sorte que o tempo
ajudou e parou de chover logo na primeira escola”, disse Aparecida
Souza, que assistia ao desfile na arquibancada.
O desfile
deste ano contou, pela primeira vez, com a interpretação dos
sambas-enredo na Língua Brasileira de Sinais (Libras), o que permitiu a
um grupo de pessoas com deficiência auditiva vivenciar mais
profundamente a experiência do carnaval no Sambódromo. A iniciativa foi
da secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida.
“A acessibilidade arquitetônica da estrutura do sambódromo do Anhembi
já foi alcançada, agora a busca é por construirmos a consciência de que
as pessoas com deficiência auditiva também querem estar presentes nesses
eventos significativos em São Paulo”, disse a secretária da pasta,
Marianne Pinotti.Gaviões da Fiel levantou o público o com tema "É Fantástico! Imagine, Admire e Sinta"
A primeira
agremiação a entrar na avenida foi a escola de samba Pérola Negra. Com o
samba-enredo Do Canindé ao Samba no Pé, a Vila Madalena nos Passos do
Balé, a agremiação contou a história de índios e negros que, fugidos da
escravidão, refugiaram-se na região. As alas e o enredo se desenvolveram
até os tempos recentes, quando o bairro passou a ser ocupado por
intelectuais e artistas.
O desfile da escola, porém, foi
prejudicado, por duas vezes, por causa de apagões parciais dos
refletores do sambódromo. A entrada da Pérola Negra na avenida já havia
atrasado cerca de 30 minutos justamente em razão de um apagão que
atingiu parte do sambódromo minutos antes da escola iniciar o desfile.
Apesar dos problemas, a Pérola Negra conseguiu completar sua
apresentação praticamente dentro do tempo limite.
O atraso,
ocorrido logo no início, acabou por prolongar muito além do previsto o
desfile das escolas de São Paulo. A última escola a entrar na avenida, a
Acadêmicos do Tatuapé, que deveria começar o desfile às 5h45, iniciou a
apresentação por volta das 7 horas.
Vila Maria
A
Unidos de Vila Maria, uma das escolas mais aplaudidas na primeira noite
de desfiles, levou para a avenida a história de Ilha Bela, cidade do
litoral paulista. Índios, piratas e navegantes fizeram parte do enredo,
elaborado pelo carnavalesco Alexandre Louzada.
Águia de Ouro
Já
a Águia de Ouro trouxe para o carnaval o tema Ave Maria Cheia de Faces.
Mais do que uma ode à mãe de Jesus Cristo, os carnavalescos Douglinhas,
Juca, Izanzinho, Cuca e Pelezinho trataram dos sentimentos da
feminilidade e maternidade. De acordo com eles, a intenção do desfile
não era religiosa, mas uma homenagem as mulheres.
Rosas de Ouro
A
escola Rosas de Ouro empolgou o público com um enredo sobre a tatuagem e
a arte corporal. Muitas pessoas nas arquibancadas agitaram bandeiras
cor-de-rosa durante a passagem da agremiação. Os carros alegóricos
lembraram o hábito de gravar desenhos no corpo desde as origens
ancestrais. Os diferentes significados da pintura permanente na pele
foram destacados no desfile: amuleto, proteção, ritual de passagem,
devoção religiosa, prova de amor e vaidade.
Nenê de Vila Matilde
Uma
das escolas mais tradicionais da cidade, a Nenê de Vila Matilde,
homenageou a atriz, cantora e dançarina Cláudia Raia. O desfile começou
com uma referência à descoberta da vocação da artista, ainda na
infância, na academia de dança da mãe. As alegorias passaram pelo início
da carreira de Cláudia como dançarina e evoluíram para a chegada ao
cinema e aos trabalhos na televisão.
Gaviões da Fiel
Já
a Gaviões da Fiel, que contou com a presença de muitos torcedores nas
arquibancadas, levantou o público o com tema É Fantástico! Imagine,
Admire e Sinta. Com inspiração em romancistas, dramaturgos e até no
espiritismo, a escola fez uma reflexão sobre a criação do homem no
universo e o papel da imaginação na existência.
Acadêmicos do Tatuapé
A
Acadêmicos do Tatuapé fez uma homenagem à escola de samba carioca
Beija-Flor de Nilópolis, agremiação que compartilha as cores (azul e
branco) e o padroeiro – São Jorge. As alegorias fizeram referência aos
desfiles da escola carioca que, ao longo de sua história, alcançou 13
títulos e 12 vice-campeonatos.
Lucratividade
Antes do
início do desfile, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, disse que o
carnaval dos blocos de rua já movimenta mais dinheiro na cidade que o
das escolas de samba do sambódromo. Segundo ele, a estimativa é a de que
os blocos movimentem cerca de R$ 400 milhões, ante R$ 250 milhões do
sambódromo. A estimativa leva em conta o dinheiro do folião usado em
hotelaria, alimentação, e outros gastos. “Os blocos de rua são mais
dias, existem muitos blocos e tem na cidade inteira”, disse.
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Mesmo com atraso e apagão, primeiro dia de desfile em São Paulo anima o público